quinta-feira, 4 de junho de 2009

O escolhido


Eu não gostava muito do meu nome.


Potiguara...


Nunca gostei. Não, não posso dizer isso. Seria um exagero.


Então direi que desde a infância tive problemas com meu nome. Assim fica melhor. Até porque, na verdade, nem sei se antes de entrar no colégio já havia ouvido meu próprio nome. Se ouvi, não dei muita importância ou fiz que não era comigo.

Eu sou Júnior. Tenho o mesmo nome do meu pai. Mas meu pai não era chamado pelo nome em casa. Minha mãe o chamava de “negrão” e nós, eu e meus irmãos, obviamente o chamávamos de Pai.

Minha mãe me chamava de júnior e o resto do mundo me tratava pelo apelido. Não vou dizer qual era, ou melhor, qual é, porque ainda me chamam assim na família. Com exceção de alguma ocorrência em salas de espera de médicos ou dentistas, ninguém referia meu nome pra nada.


Quando entrei no colégio com meus 7 anos e meio, na chamada do primeiro dia de aula, ao ouvir meu nome (a primeira chamada a gente nunca esquece), quase procurei pela sala pra ver quem era aquele com o nome esquisito. Era eu... Quando me acusei, notei que todos os colegas haviam pensado a mesma coisa, e o pior, externaram isso com risinhos e comentários.

A gente sabe como criança é sincera; e cruel na sua sinceridade, mas quase nunca lembramos ou imaginamos o que é sofrer esta crueldade.

Claro, hoje em dia isso tudo me parece ridículo, mas na época e durante muitos anos eu fugi desse nome. Pensei até em trocar. Me perguntava porque justamente Eu havia sido o escolhido para “carregar” essa homenagem. Depois descobri que meu pai havia tentado o mesmo com meus irmãos, sem conseguir convencer minha mãe.


Mas ele era um brasileiro e não desistiu até conseguir.

Sei la quantos irmãos eu teria se minha mãe não tivesse cedido.


Meu pai e meus irmãos em todos os empregos por onde passaram, no quartel, em cursos, times de futebol, sempre foram “ô Perêra”. Eu sempre fui o Poti, Pôti, Potígua e assim vai. Até no quartel. Isso por um lado foi bom, porque fui me acostumando com ele e aos poucos me afeiçoando. Com o tempo a coisa foi acalmando.


Passamos por vários processos durante a vida e à elaboração dessas experiências podemos chamar amadurecimento.

Dizem que os homens nunca amadurecem, apodrecem direto, mas isso não é bem assim. Sempre há alguma melhora e sempre se pode aproveitar alguma coisa de cada um de nós, representantes da masculinidade, nem que seja a “aptidão” para abrir vidros de azeitona e carregar sacolas de super.


Aos poucos fui me dando conta do quanto essa história do nome era importante para o meu pai e passei a assinar mais legível, além de colocá-lo sempre em destaque quando possível.


Creio que nesse processo eu consegui me sair bem. Hoje, olhando pra trás e lembrando de meu velho e saudoso pai, da forma orgulhosa como ele proferia o seu nome e muito mais o meu, sinto-me honrado por ter sido o escolhido e tento fazer por merecer esta homenagem.


No final das contas, o agraciado sou eu e sinto-me orgulhoso por poder carregar comigo toda a força e importância que este nome representa para mim.


Saudades do meu velho...



Aquele abraço...!!!



5 comentários:

Unknown disse...

Poti,
Te acompanho desde sempre e não sabia destas coisas... mas o importante é que conseguiste resignificar, o texto está muito legal, na verdade "seríamos" todos índios, se não me engano me chamaria Ubirajara, um abraço!

Anônimo disse...

Pô Poti!!
Sou péssimo com datas e tambem não tenho a mínima idéia de quanto tempo te conheço, apesar de não conviver muito com a tua pessoa, achei o depoimento belíssimo e te garanto que muito orgulhoso do amigo!!

Um grande abraço.

Jorge Bueno

Anônimo disse...

Chê, eu acho bem bonito o nome Potiguara. Parabéns pelo texto, muito bem escrito.

Anônimo disse...

Chê, Muito bem escrito o texto. Parabéns! Sobre o teu nome, acho bem bonito o nome Potiguara.sds.,

Anônimo disse...

Potiguara é uma das tribos mais importantes de nossa história indígena
É também idioma tupi-guarani falado pelos índios do litoral nordestino.
Hoje vivem no norte da Paraíba nas cidades:
BAÍA DA TRAIÇÃO e RIO TINTO,
não por acaso, "homenagem" ao massacre sanguinário e à traição dos portugueses.
Povo guerreiro, os melhores arqueiros da nação indígena.
Preservam até os dias de hoje suas tradições:
reapreenderam o tupi-guarani; mantem o ritual sagrado do
TORÉ, q celebra a amizade, o sentimento de grupo e de nação!
Além da traição dos portugueses, o povo POTIGUARA foi
quase dizimado pela peste da varíola!

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