terça-feira, 9 de março de 2021

 

K’ung-fu-tzu.

 

Quando eu era criança havia muita crendice sobre o ano 2000. Muitos de vocês devem ter nascido depois disso, mas alguns vão lembrar. Era assim, “no ano 2000 vai acabar o mundo”, “vamos andar em discos voadores”, “no ano 2000 vai andar todo mundo pelado”, “os carros serão voadores”, e por aí vai. Lembro de um dia ter pensado assim, “Baaa, no ano 2000 vou estar com 39 anos, vou ser velho quenem o meu pai”. Ehehehe

Isso era outra coisa de “antigamente” (nem isso se diz mais). As pessoas pareciam envelhecer mais cedo. Os “velhos” tinham 60, 70 anos. Até nas fotos, que eram poucas e em preto e branco, os velhos não eram tão idosos assim, mas pareciam. Outra bobagem de piá que lembrei agora falando das fotos, uma vez provoquei muito riso no meu pai quando falei que não gostaria de ter vivido antigamente. Era tudo preto e branco... Ahaha

Bom, tudo isso pra dizer que sou velho. Já faz um tempo segundo meu parâmetro de “antigamente”. Passamos em muito do ano 2000, já sou muito mais velho do que o meu pai era naquela época, e não aconteceu nada daquilo, infelizmente. Principalmente a parte de andar pelado.

Por que to falando da infância? De novo... É que eu estava lembrando de como gostava de visitar o trabalho do meu pai e ver ele produzindo. Ele era confeiteiro. Top! O melhor da cidade. Tortas, bolos, mil folhas, biscoitos... Trabalhou na confeitaria Copacabana no Mercado Público de Porto Alegre e é de lá que tenho as melhores lembranças.

Alguns anos depois virou budegueiro. Tinha uma lancheria e fazia sonhos. MEU DEUS! Que maravilha! Depois que ele vendeu o bar fez sonhos só mais uma vez. Nunca mais fiquei feliz comendo sonhos depois disso. Não tem igual.

Mas, voltando ao assunto, nessa lancheria a gente fazia pastel. Ali aprendi a fazer a massa do pastel, temperar e cozinhar o recheio, fritar os pasteis, colocar em exposição no balcão, vender e o pior, não comer. Quantos anos eu tinha? Doze? Quatorze? Não lembro nem vou perguntar pra mãe agora pra não perder o fio da meada (outra expressão que vai deixar muita gente boiando (essa também. Ehehe)).

Será que começou ali a minha história? O padeiro vem se formando em mim desde a infância? Pode ser, Né?

Sabe, sempre achei meio forçado as pessoas dizerem amar suas profissões. Adorar trabalhar. Capaz... Quem é que gosta de trabalhar? Por favor...

Hoje, se precisar acordar de madrugada pra preparar uma fornada ou ficar até tarde preparando a massa para assar no outro dia, é tudo muito leve, muito prazeroso.

“Encontre um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”. Confúcio é O CARA!

 

Aquele abraço!

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Sonhos


- Preciso voltar a dormir.

- Por quê?

- Porque dei dez pila pra pagar o refri e acordei antes do cara me dar o troco.

Estava conversando com a minha mulher (talvez em sonho também, porque ela está viajando. Deve ser a saudade.) E não adiantou eu tentar e tentar, não voltei a dormir. Pode ter sido pela ansiedade em voltar a sonhar ou pela vontade de ir ao banheiro. Tanto faz. O fato é que perdi R$8,50 e não sei se recupero. Começa que aquela banca de revista fica em um lugar que eu não conheço. Não sei qual ônibus que pega para chegar lá, apesar de eu estar esperando este para voltar também não sei para onde. Depois, mesmo que eu voltasse neste mesmo lugar em outro sonho, estaria dormindo. Será que lembraria de pedir o troco? O cara lembraria de mim?

Pois é, deixa pra lá. Não foi a primeira vez em que acordei durante um sonho e tive que lidar com a frustração.

Acho que todo mundo já acordou em alguma noite no meio de um sonho e quis desesperadamente voltar. Já vi gente até chorando por causa disso. Vira para o mesmo lado, se concentra, tenta ficar na mesma posição, reza e nada. Até pode dormir de novo, mas o sonho nunca será continuação do mesmo. É que nem a segunda xícara de café no restaurante. A primeira, maravilhosa, digna de repetição, já a segunda, por melhor que esteja jamais será igual.

A gente demora para superar, dependendo do sonho. Na puberdade acontecia muito isso. E era sempre o mesmo sonho, o mesmo contexto. O elenco mudava conforme as capas das revistas, mas não vamos entrar em detalhes senão a minha mulher me mata.

O ponto é que a tivemos de lidar com isso a vida toda. Sempre essa frustração, um sentimento de impotência, de derrota e a gente lutando contra estes. Pode ser uma arma do nosso subconsciente nos ajudando a amadurecer, fortalecendo nosso caráter, capacidade de superação, essas coisas ou é só mais uma peça que este sacana nos prega e depois fica nos recônditos da nossa mente, escondidinho, rindo de nós.

Eu quase nunca sonho, ou lembro destes, aí quando sonho e lembro acontece isso.

Hoje à noite vou dormir de novo, mas nem quero mais esse dinheiro, além do mais, refri a R$1,50 só em sonho mesmo. Tomara que o cara fique quebrando a cabeça muito tempo tentando fechar o caixa para aprender a dar o troco mais rápido sem ficar enrolando.


Aquele abraço!

P.S. Senti saudades de vocês!


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Mumuzinho



Buenas.
Tudo bem com vocês?
Fazia um tempão, né? Pois é, aqui estamos nós novamente, escrevendo bobagens...
Esses dias ouvi de um amigo que a vida é como a mulher. Às vezes ela nos deixa fazer as coisas ao nosso modo pra pensarmos que estamos no controle.
A gente pensa que ta decidindo e dando rumo às coisas, quando na verdade ta só seguindo o seu plano.
Ela concorda, faz que acredita, incentiva, e quando vemos estamos bem onde ela queria que estivéssemos, e o pior de tudo, coroando este plano maléfico, é que gostamos. Mesmo quando nos damos conta. Disfarçamos e seguimos, cheios de razão, estufando o peito e parecendo donos da situação.
Vai ver é por isso que alguns homens chamam suas mulheres carinhosamente de vida. Minha vida...
Pois bem. Minha vida, não minha mulher, mais uma vez me leva a ser feliz ao seu modo.
E nem disfarça!
Agora sou avô. Nem de longe sonhava com isso, não esperava tão cedo, sem planos, sem espera...
Sou avô de um menino, o Murilo. Lindo como todos da minha família, e mais lindo ainda por ser filho da minha filha. Aquela mesma que no outro texto eu levava pela mão à parada de ônibus para ir ao colégio, que ainda anda “de mão” comigo na rua, que tem ainda o mesmo ar doce e infantil, carrega agora nos braços outra criança, mas quão sábia é esta tal de vida!
Uma criança (aos meus olhos apenas), que já sabe ser mãe, que encarou sem medo o preconceito, as pressões e acusações dos primeiros momentos da revelação, que curtiu a gravidez a cada dia, esperou e curtiu cada momento, cada chute e mexida dele na barriga, cada ecografia. Que encarou o parto com suas dores e seus temores, que se absteve dos maiores prazeres durante a gestação, como a banana com Nescau e as vergamotas, em prol da saúde do filho e que agora igualmente curte seus momentos de mãe.
Cada cocô, soluço e arroto, vencendo outros medos, inseguranças, cólicas e noites mal dormidas, lutando para amamentar e amando cada vez mais aquele pedacinho dela que é um pouco meu também.
Então é isso gente. Queria contar pra vocês esta novidade. Que estou muito feliz e orgulhoso por esta pequena guerreira e agradecer pelo presente que ela me deu.
Sou grato também à vida por ter me aprontado mais esta, mas ela que não pense que pode me controlar e manipular. Sou dono do meu nariz e do meu destino. Ela só me pegou distraído...

Aquele abraço!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Fecham-se as cortinas



Corria o mês de Novembro de 2013, uma manhã normal como outras tantas dos últimos... Quantos anos? Não lembro.
Saindo de casa meio correndo, puxando a Júlia pela mão, ainda aos 17 anos (depois eu comento esse lance da mão), tentando chegar logo à frente do condomínio, de onde se pode ver a parada do ônibus. Pelo menos daquele ponto em diante poderíamos ver se este estava chegando ou se já havia passado, dependendo da população da parada.
Se estivesse cheia seria sinal de que não havia passado nenhum, se estivesse vazia, já teriam passado todos, pois cada um, de linhas diferentes, leva um pouco do pessoal. Poderia ter pouca gente, o que nos colocaria em dúvida se o “nosso” já teria passado. A menos que aquela “tia” que pega o mesmo ainda estivesse lá. Mas, e se ela tivesse também perdido o horário? Momentos de tensão, pois o horário é apertado e o intervalo entre os horários não da chance de pegar o próximo e chegar a tempo do primeiro período de aula.
Pois bem, era uma manhã como as outras, depois do stress diário, puxando ela da cama, lembrando do horário a cada 5 minutos, apressando o banho, cancelando a chapinha ou a escolha mais elaborada do figurino, conseguimos sair de casa. Estávamos chegando no portão e o ônibus na parada.
E agora? Será que dá tempo? Atravessar duas pistas da avenida correndo? Vamos tentar, foi a decisão conjunta. A primeira pista estava vazia ou o sinal aberto para nós, não lembro, corremos e o ônibus, na outra pista arrancou. Perdemos! Foi o que pensamos, mas não, o “tio do ônibus” colocou o carro em diagonal na rua fazendo sinal para ela atravessar e a esperou embarcar, depois foi embora acenando e sorrindo para mim. Nossa sorte que era um dos conhecidos, que durante esses vários anos a levou de casa para o colégio.
Foi nesse instante que a ficha caiu. Faltavam poucos dias para o final do ano letivo. Poucos dias para a conclusão do ensino médio, para o final desta etapa, para o início do resto da sua vida. Poucos dias mais de irmos juntos até a parada, batendo papo de mãos dadas, esperar o ônibus assim ou abraçados, trocando confidências ou observando os outros, somente mais alguns sanduíches com “pão de ontem” (que ela prefere), que só depois de muito tempo descobri, servia de lanche coletivo bem antes do intervalo, e aí passei a fazer dois destes de vez em quando, para satisfazer também aos seus colegas.
Neste momento alguma coisa começou a pesar dentro de mim. Uma bobagem destas que pai velho tem. Um sentimento de perda minando a satisfação de ver a filha concluindo o “segundo grau”.
Ela, em meio a tantos eventos paralelos, entre provas, festas, vestibular, formatura, arrecadação de fundos e tudo o mais, nem se deu conta do fim iminente e seguiu feliz na sua viagem diária, pensando nas suas coisas, ou em nada, como é normal nesta idade.
Somente eu fiquei com meus fantasmas, voltando pra casa, tomar café, aprontar pra ir ao trabalho, seguindo a vida, feliz por ela, mas com aquele "nózínho" no peito...



Aquele abraço!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Eleições




Ano que vem tem eleição. 
De novo.
Em outros tempos estaria excitado, acompanhando os movimentos políticos dos políticos.
Estaria sabendo dos candidatos e seus projetos, das verdades dos meus e das mentiras dos “dos outros”.
Em outros tempos.
Tempos de sonho, utopia, esperança.
De uma juventude sobrevivente, renascida, não das cinzas, mas do cinza. Um tempo cinza, Verde oliva cinza. Não mais o verde vivo da bandeira, mas uma cor opaca, escura, que para mim parecia cinza, tudo em tons de cinza.
Que humilhou e torturou e matou muita gente. Muito além dos presos políticos e suas famílias. Todo um povo humilhado, uma juventude abreviada, uma geração marcada, arrasada.
Que não tinha mais do que esperança, pois as forças já rareavam e a luta fazia menos sentido perante a vida. Tantos anos de jugo, tantos filhos nascidos no cativeiro, este cativeiro intelectual, moral e cívico.
Patriota por obrigação, nacionalista com manual, lições a decorar e generais a adorar.
Eis que brilha no horizonte o sol de raios fúlgidos da abertura política, com os velhos guerreiros voltando, saboreando uma vitória ilusória, uma liberdade fictícia, uma democracia caricata. Não tanto pelo poder da lei que a limitava quanto pela divisão de forças ocasionada pelo excesso de inteligências e vaidades.
A esquerda de tantas mentes brilhantes e idéias progressistas se perdeu entre mentiras, promessas e sede de poder.
A verdade tantas vezes repetida de formas diferentes, tomou formas diferentes ditas da mesma maneira, e o povo, embebido na esperança realizada, embriagado pelo sonho materializado, seguiu sua vida de gado, elegendo os mesmos de sempre e descobrindo aos poucos e a duras penas, que democracia não é sinônimo de justiça e que a ditadura pode ser boa se for a nossa, assim como opressão, tortura e humilhação não dependem necessariamente de força bruta, armas ou fardas, mas da comissão na negociata, do interesse do poder dominante, do que a TV quer que a gente queira.
O novo parece velho quando discursa para um lado e realiza para outro, quando se abraça ao inimigo pela governabilidade, quando releva o irrelevável pela manutenção do poder.
Se a esperança é a última que morre, mantenho a esperança de voltar um dia a ser ingênuo e a acreditar que tudo pode mudar.



Aquele abraço!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Naquele tempo...



Essa história de visitar locais do nosso passado, que fazem parte das lembranças da infância ou juventude sempre acaba da mesma forma.

É ótimo, claro, eu gosto muito de fazer isso. Sempre que posso dou uma chegada quando estou passando perto. Transito pelas ruas, olhando as casas, lembrando dos vizinhos, dos amigos e suas irmãs, das casas e dos eventos associados a elas. A própria rua tem, quase sempre, histórias “para contar”, mas o final é sempre o mesmo. Uma sensação que mistura saudades, perda, realização e vontade de voltar para lá, praquele tempo. Acho que esta é a definição de nostalgia.

Gosto muito da minha vida, do momento atual, assim como gosto do passado e vou gostar do futuro quando chegar lá, mas assim como a grama do vizinho é sempre mais verde, os momentos que vivemos na juventude (idade esta indefinida que se passou alguns anos antes do agora), estes nos parecem mais coloridos, mais perfumados, mais saborosos.

Parece uma coisa ruim, mas eu não penso assim. Não é inveja de mim mesmo, é mais uma admiração. 

Lugares podem ser geográficos ou mentais, e é óbvio que existem também aqueles feios, frios, úmidos, sombrios, mas estes a gente evita, tanto quanto possível, física ou mentalmente.

Quando converso com meus amigos daquele tempo, percebo que todos têm sentimentos parecidos. Pelo menos é o que parece, porque o que mais se fala é “daquele tempo”, e a maioria das frases começa com “Tu lembra”, continuando com uma variação entre “daquela vez”, “daquela guria”, “daquele jogo”, daquela qualquer outra coisa, seguida de muitas risadas e um pouquinho deste sentimento que eu falei ali em cima, mas é bom, senão a gente não falava, não lembrava com tanta satisfação, com tanta freqüência.

Pensando bem, isso é muito bom. É ótimo, porque ainda lembramos as coisas, fatos, pessoas... Daqui a alguns anos, quando encontrar com meus amigos sobreviventes, as respostas para as tradicionais “Tu lembra?” será um sonoro “hein?!?!” com a mão em concha atrás da orelha, ou um reticente e deprimente “Não lembro...”


Aquele abraço!

terça-feira, 23 de julho de 2013

Força interior



-         Prrrr...
-         O que foi isso?
-         Como assim?
-         Que barulho foi esse?
-         Espera que daqui a pouco tu vai saber.
-         EU SEI o que foi isso. Foi um peido, só não to acreditando.
-         Espera mais um pouquinho que já, já tu acredita. Aqui ele já ta
bem convincente.
-         Não vou esperar nada... (ligando o ventilador na direção dele),
que falta de respeito!
-         Respeido?
-         Engraçadinho...
-         Minha mãe sempre dizia isso...
-         Aposto que não nestes momentos.
-         É, realmente. Uma vez ela me deixou de castigo no banheiro até
que... Bom, tu sabe.
-         E tu continua falando como se isso fosse a coisa mais natural do
mundo.
-         E não é? Todo mundo bufa, só que “alguns” são dissimulados,
colocam a culpa no cachorro ou no catalizador do escapamento do carro.
-         Ai, para! De novo com esse assunto? Tu sabe que eu jamais faria
isso, ainda mais fechada dentro do carro.
-         Se eu abastecer o carro com repolho e ovo pode ser que saia
aquele cheiro do escapamento.
-         Como tu é... Tentando virar o jogo pra disfarçar a tua cara de pau.
-         Eu não to tentando disfarçar nada, muito pelo contrário. Pelo
menos não foi debaixo das cobertas. Se bem que com esse frio até que esquenta um pouco.
-         A ta. Já chega quando tu faz isso dormindo. Agora vai atacar
acordado também?
-         A não! Dormindo não conta.
-         Conta sim, ainda mais quando ta encostado na minha coxa...
-         Mas é sem querer, amor... Vai dizer que não é bom? Quentinho...
-         Para! Que nojo!
-         Ta bom. Concordo que é nojento... Mas é bom!
-         Tu não era assim. Quando a gente se conheceu eu não
imaginava que um dia teria que passar por uma situação dessas.
-         Meu Deus, que drama. Só por causa de um punzinho.
-         Não tem punzinho, nem punzão. Para com essa história! Espero
que isso não se repita, pelo menos não na sala e muito menos na minha frente.
-         Ditadora! Não adianta. São os novos tempos. As minorias não
aceitam mais viver reprimidas, subjugadas, amordaçadas. Tu não pode querer calar uma manifestação legítima por liberdade.
-         Isso é vandalismo, isso sim! Vai te manifestar no banheiro.
-         Ta bom, mas presta atenção numa coisa...
-         O que?
-         Prrrr...


Aquele abraço!