segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Lugares


Quando era criança, ir ao centro da cidade era um evento importante, uma experiência quase transcendental, mística até. A gente tinha que tomar banho, “se arrumar” e pentear o cabelo.
Morávamos na Tristeza e só saíamos do bairro por algum motivo muito importante como ir ao médico, comprar roupas ou tirar retrato.
Deixa eu abrir um parêntese aqui. Por que será que quando nos referimos ao bairro Tristeza, dizemos “na” Tristeza, ou “a” Tristeza, sem nos preocuparmos com trocadilhos ou cacofonia, ou ainda com má impressão que possa causar?
Usamos sem temor, expressões como “Nasci e me criei na Tristeza” ou “Estamos entrando na Tristeza”, ou ainda “O estádio do colorado fica ali, quem vai pra Tristeza”. Esta última até que combina, mas poderíamos dizer de outra forma.
Por exemplo, tem uma cidade na subida da serra gaúcha chamada Feliz, e quando por descuido nos referimos a ela dizendo “em” Feliz, os habitantes ou migrantes de lá sempre nos corrigem, pois não se diz “em” Feliz, mas “NA” Feliz. Tudo para evitar mal-entendidos, pois foneticamente pareceria que a pessoa vive infeliz ao invés de em Feliz.
É uma confusão e também uma bobagem. Apenas me ocorreu agora que com “a” Tristeza não tem isso.
Bom, deixa isso pra lá. Voltemos ao centro.
Então eu tenho este quase-fetiche em relação ao centro.
Trabalhei a maior parte da minha vida produtiva no centro, estudei no centro, morei no centro e mesmo hoje estando longe, quando posso dou uma passada por lá para matar a saudade.
Não tem muito como explicar isso. O centro é sujo, quando não está atopetado de gente que nem da pra caminhar, está deserto e propício à ação dos meliantes. Muitas pessoas detestam o Centro. Ir, passar ou estar nele causa arrepios.
Eu não. Eu gosto.
Dia desses estava de folga e aproveitei para dar uma passada e uma passeada por lá, vindo “da” Tristeza.
Impossível não passar pelo Mercado, mesmo não comprando nada, olhar as bancas e sentir os cheiros, tomar um café, “dar uma banda” na Voluntários, entrando nos bazares, ferragens e lojas de calçados, só para “dar uma olhadinha”. Passear pelo Centro, mesmo sem muito tempo, apenas “de passagem”, é uma coisa que me dá muito prazer. Me sinto em casa.
Sou morador da Zona Norte há alguns anos e agora trabalho por aqui, mas ainda estou me ambientando, descobrindo seus lugares, suas ruas, praças e conhecendo as pessoas.
Cada local tem suas sutilezas e seus encantos.
Gosto do meu Centro, da minha Tristeza e aos poucos vou me acostumando, gostando e fazendo também minha esta ZN.


Aquele abraço!