domingo, 28 de outubro de 2012

Direitos



Vocês sabiam que é proibido falar ao celular em agências bancárias?
É para evitar o tal golpe da “saidinha”, quando os bandidos observam as pessoas sacando dinheiro e ligam para os comparsas que estão esperando lá fora. Se não puderem usar o celular não poderão avisar os comparsas sobre os saques dos clientes.
 Muita gente sabe disso, mas pouca gente liga. É uma lei como a maioria das outras, que não é cumprida, porque a fiscalização é frouxa e porque as pessoas não dão bola. Precisa telefonar ou atender à chamada, fala e pronto. Está “no seu direito”. As pessoas sentem-se prejudicadas se são impedidas, mesmo sendo exclusivamente para sua proteção. Assim como as famigeradas portas giratórias. Tem gente que surta quando fica trancada na porta, mas não se da conta de que é só por causa destas que ninguém entra armado em banco.
Vocês sabiam que tem outra lei que proíbe aparelhos sonoros em transportes coletivos? Rádio, MP3, MP4, Ai isso, Ai aquilo, qualquer coisa que toque músicas, mesmo boas, em volume alto. Não sei se é uma nova ou é reedição de outra antiga, pois lembro de já existir esta lei quando eu era jovem.
Deveria existir uma lei que proibisse proferir palavras de baixo calão em lugares públicos. Existe? Sério? Mais uma desprezada...
Semana passada fiquei com pena de uma senhora que sentava à frente de dois rapazes no ônibus. Os caras falavam muitos palavrões, mais do que não-palavrões numa conversa que deveria ser normal. Em altos brados, e esta é outra coisa chata. Porque as pessoas falam tão alto? Dificilmente ando acompanhado no ônibus, mas quando encontro alguém e conversamos, o tom é baixo, não por ser segredo, mas por que ninguém tem nada a ver com os meus assuntos. Tem aqueles que vão em dupla, sentam os dois na janela, um na frente do outro e ficam conversando.
Assim é no celular também. No ônibus, no shopping, no restaurante, fala-se ao celular, agora ilimitado, como se falasse com a vizinha do outro lado do muro. Nem precisaria do telefone.
Esses dias enquanto almoçava, uma moça na mesa ao lado falava ao celular. Alto. Muito alto.
E não parava de falar, intimidades, reclamações, fofocas. E comia, e falava com a boca cheia. Uma hora quase pedi para que ela repetisse, pois não havia entendido o que dissera.
Às vezes me espanto com certas pessoas, como podem ter tanto assunto? Falam e falam e perguntam. Não que ache ruim, nada contra, apenas estranho. Até invejo, porque não sou de falar muito. Ao telefone então, menos ainda. Dou meu recado, até converso um pouco, mas saio do ar em seguida, e procuro falar baixo.
Não sei se isso é uma questão de educação ou bom senso. Também não sei se tenho razão, só que estas coisas me incomodam. O excesso de direitos hoje em dia, ou melhor dizendo, o direito excedido nos seus limites. Antigamente a gente aprendia assim: os teus direitos acabam onde começam os direitos do próximo, mas esta deve ser mais uma “lei” revogada pela sociedade moderna.


 Aquele abraço!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Amizade



Hoje eu to triste, e não é porque a novela ta acabando, nem pelo resultado da eleição, nem porque ta chovendo e eu não posso sair de moto.
Estes seriam motivos para me entristecer, mas essas coisas são pequenas, corriqueiras, a gente acaba superando.
Pra isso que serve a vida. Desde pequeno a gente aprende a sofrer, a lidar com as frustrações e dar a volta por cima. De uma forma ou de outra, as coisas ruins acontecem, nos abalam e com o passar do tempo vão perdendo a importância, vão ficando para trás.
O que me entristeceu hoje foi algo muito mais sério. Algo com o que eu não sei lidar muito bem.
A tristeza da minha filha.
Sempre foi assim, com ela e com o mano dela. Com crianças em geral, pela perda fracionada da inocência que causam os pequenos sofrimentos da infância, e filhos são sempre crianças para os pais.
Não posso ver uma criança sofrendo. Muito mais meus filhos.
Chorar pela dor de um machucado, pela perda em um jogo ou brincadeira é normal e acho que da mesma forma vai preparando para dores maiores, mas aquela lágrima sofrida causada por decepção, traição, violência, é muito doída e dói em mim também.
Os corações puros não conseguem entender as razões e por isto sofrem, por não verem lógica em determinados comportamentos. Pais violentos, amigos infiéis, estas coisas.
Com o passar do tempo e com as experiências da vida, vão conhecendo melhor as pessoas, diferenciando umas das outras. Entendendo um pouco a natureza humana passam a se proteger. Com sorte no decorrer da vida não se tornarão pessoas amargas e entristecidas.
Hoje ela chegou do colégio e disse que estava muito triste. A princípio pensei que fosse uma de suas brincadeiras, mas quando começou a contar e não conseguiu terminar, com a voz embargada pelas lágrimas, percebi que a coisa era séria.
Ela tem poucas amigas e ama suas amigas. Hoje, por algum motivo a relação com algumas do colégio não está boa, o que a levou a imaginar um distanciamento maior e permanente.
Ela tem outras amigas, outros amigos, namorado; também já passou por situações parecidas em outros tempos e sofreu da mesma forma. Tomara que ela esteja enganada e que eu esteja com a razão ao pensar, que se trata apenas de uma crise e que daqui a uns dias tudo voltará ao normal, mas novamente, o que me doeu foi aquele olhar. Não entender o que está acontecendo, a decepção, a perda.
Torço para que isso passe logo e que voltem a ser a mesma turma unida e animada de antes, que se não puder ser assim, que ela supere logo e que permaneça a mesma pessoa alegre e sonhadora, não se deixando endurecer pela vida, torço ainda para que elas leiam este texto e se dêem conta do quanto uma significa para a outra, saibam do valor das amizades sinceras, percebam que as pessoas mudam, que têm cada uma seus problemas, seus sonhos e realidades, que crises ocorrem sempre, mas que este sentimento não acaba.


Aquele abraço!