Corria o mês de Novembro de 2013, uma manhã
normal como outras tantas dos últimos... Quantos anos? Não lembro.
Saindo de casa meio correndo, puxando a Júlia
pela mão, ainda aos 17 anos (depois eu comento esse lance da mão), tentando
chegar logo à frente do condomínio, de onde se pode ver a parada do ônibus. Pelo
menos daquele ponto em diante poderíamos ver se este estava chegando ou se já
havia passado, dependendo da população da parada.
Se estivesse cheia seria sinal de que não
havia passado nenhum, se estivesse vazia, já teriam passado todos, pois cada um,
de linhas diferentes, leva um pouco do pessoal. Poderia ter pouca gente, o que
nos colocaria em dúvida se o “nosso” já teria passado. A menos que aquela “tia”
que pega o mesmo ainda estivesse lá. Mas, e se ela tivesse também perdido o
horário? Momentos de tensão, pois o horário é apertado e o intervalo entre os
horários não da chance de pegar o próximo e chegar a tempo do primeiro período
de aula.
Pois bem, era uma manhã como as outras,
depois do stress diário, puxando ela da cama, lembrando do horário a cada 5
minutos, apressando o banho, cancelando a chapinha ou a escolha mais elaborada
do figurino, conseguimos sair de casa. Estávamos chegando no portão e o ônibus
na parada.
E agora? Será que dá tempo? Atravessar duas
pistas da avenida correndo? Vamos tentar, foi a decisão conjunta. A primeira
pista estava vazia ou o sinal aberto para nós, não lembro, corremos e o ônibus,
na outra pista arrancou. Perdemos! Foi o que pensamos, mas não, o “tio do
ônibus” colocou o carro em diagonal na rua fazendo sinal para ela atravessar e a
esperou embarcar, depois foi embora acenando e sorrindo para mim. Nossa sorte
que era um dos conhecidos, que durante esses vários anos a levou de casa para o
colégio.
Foi nesse instante que a ficha caiu. Faltavam
poucos dias para o final do ano letivo. Poucos dias para a conclusão do ensino
médio, para o final desta etapa, para o início do resto da sua vida. Poucos
dias mais de irmos juntos até a parada, batendo papo de mãos dadas, esperar o
ônibus assim ou abraçados, trocando confidências ou observando os outros,
somente mais alguns sanduíches com “pão de ontem” (que ela prefere), que só
depois de muito tempo descobri, servia de lanche coletivo bem antes do
intervalo, e aí passei a fazer dois destes de vez em quando, para satisfazer
também aos seus colegas.
Neste momento alguma coisa começou a pesar
dentro de mim. Uma bobagem destas que pai velho tem. Um sentimento de perda
minando a satisfação de ver a filha concluindo o “segundo grau”.
Ela, em meio a tantos eventos paralelos,
entre provas, festas, vestibular, formatura, arrecadação de fundos e tudo o
mais, nem se deu conta do fim iminente e seguiu feliz na sua viagem diária,
pensando nas suas coisas, ou em nada, como é normal nesta idade.
Somente eu fiquei com meus fantasmas,
voltando pra casa, tomar café, aprontar pra ir ao trabalho, seguindo a vida, feliz
por ela, mas com aquele "nózínho" no peito...
Aquele abraço!
5 comentários:
Esse tipo de reflexão só aparece depois dos 40 anos.
É que já estamos vencendo a fronteira "Tempo/Espaço"
Não cozinhamos mais na primeira fervura. Hehhehehehe
Mas bonita sua reflexão de amor incondicional, Infelizmente nem todo mundo consegue sentir isso.
Forte Abraço.
Pois é meu velho, eu tenho ainda alguns anos antes desta sensação de grandes mudanças iminentes (por enquanto, a mais recente foi largar as fraldas!) mas pelo teu relato consegui me colocar no teu lugar e imaginar como vai ser daqui a alguns anos... Faz parte! Criamos eles para o mundo!
Grande abraço!
É isso aí Bagual, o tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus nem existe mais...
Pode crê, véi. Abração!
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