domingo, 2 de setembro de 2012

Crivo



Crivo... Quem aí sabe o significado desta palavra?
Sabe que muito antigamente, lá pelos meados dos anos 70 do século passado apareceu uma expressão entre a “magrinhagem”, quando alguém estava sem cigarros pedia: Me passa um crivo. Tem até uma música que usa essa expressão.
De onde será que veio isso? Crivo é, para encurtar a história, uma coisa cheia de furos. Antes eu ouvia a expressão “crivado de balas” e imaginava o cara cheio de balas, mas isso se refere aos furos causados pelas balas e não às balas em si. Crivo é também o nome dado àquela telinha que tem nos confessionários, por onde passam as confissões dos sórdidos pecados cometidos pelos fiéis de algumas religiões. Também pode ser uma peneira, e aí sim chegamos perto do nosso assunto.
Dia desses passei por uma situação que me fez lembrar meus tempos de estudo mais dedicados do kardecismo. Não vou contar o que me aconteceu, mas comentar uma passagem interessante envolvendo o filósofo Sócrates.

Conta-se que certa feita um homem esbaforido achegou-se a ele e sussurrou-lhe aos ouvidos:
- Escuta, na condição de teu amigo, tenho alguma coisa muito grave para dizer-te, em particular.
- Espera, ajuntou o sábio prudente. Já passaste o que me vais dizer pelos três crivos?
- Três crivos? - perguntou o visitante, espantado.
- Sim, meu caro amigo, três crivos. Observemos se tua confidência passou por eles. O primeiro, é o crivo da verdade. Guardas absoluta certeza, quanto àquilo que pretendes comunicar?
- Bem, ponderou o interlocutor, - assegurar mesmo não posso. Mas ouvi dizer, então...
- Exato. Decerto peneiraste o assunto pelo segundo crivo, o da bondade. Ainda que não tenhas certeza do que julgas saber, será pelo menos bom o que queres contar?
- Isso não. Muito pelo contrário, declarou o homem.
- Então recorramos ao terceiro crivo, o da utilidade, e notemos o proveito do que tanto te aflige.
- Útil não é.
- Bem, rematou o filósofo num sorriso, se o que tens a confiar não é verdadeiro, nem bom e nem útil, esqueçamos o problema e não te preocupes com ele, já que nada valem casos sem edificação para nós.

Quer dizer, quando ouvires algo sobre alguém, especialmente se este de alguma maneira te é caro, passa tu mesmo o assunto pelos três crivos de Sócrates para que não sejas injusto nem aceites searas de desconfiança semeadas por outrem em tua consciência.
Traduzindo: Te liga! Nossa vida sustenta-se nas relações. Amizades são construídas à longo prazo e seus pilares não devem ser abalados por qualquer desconfiança ou maledicência.


Aquele abraço!

Um comentário:

@mateador disse...

Eu li. E essa dos três crivos é boa.

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