Estou parado na porta de saída do ônibus, acabei de dar o sinal para ele parar quando sinto alguém me cutucando, tentando passar por mim. É uma jovem senhora. Força de um lado, tenta de outro, até que já meio irritada resolve se comunicar:
- O Sr. pode me dar licença?
- Não.
- Eu preciso descer na próxima parada.
- Isso é problema seu...
- Mas é o fim da picada. Um homem velho... O Sr. deveria ter consciência do transtorno que causa às pessoas com esta atitude. Onde já se viu ficar parado na porta atravancando a passagem de quem quer descer? Por isso que este país está deste jeito, essa bagunça, falta de respeito generalizada, falcatruas, roubalheira. Cada um se preocupa apenas com os seus problemas e se lixa para as necessidades e os direitos dos outros.
- “Ora, francamente, o Sr. não tem vergonha na cara? Se o Sr. ficar aí parado eu vou perder a minha parada! Vou ter que me queixar ao cobrador ou motorista? Vou chamar a polícia!
Algumas pessoas percebem o que está acontecendo e se divertem. Outras, percebendo o que poderia acontecer, mostram um ar apreensivo.
- O Sr. não vai mesmo sair do meu caminho?
- A Sra. deu o sinal para o ônibus parar?
- Não, mas o que o Sr. tem com isso?
- Porquê a Sra. acha que o ônibus vai parar sem ter dado o sinal?
- O Sr. não está vendo a luz de “parada solicitada” acesa?
- Sim Sra, mas porque ela está acesa? Será que está com defeito?
- Ora, alguém deve ter dado o sinal...
- Quem teria sido?
- ...
- Eu também vou descer na próxima.
Essa história não aconteceu inteira. Só até um pedaço. No momento fiquei imaginando isso tudo, pois é o que da vontade de fazer com algumas pessoas.
O mesmo tipo de gente que, sendo um rapaz passa na frente de uma senhora com uma criança no colo, que jovens, não dão lugar a idosos, que ficam com a mochila nas costas trancando o corredor do ônibus, que ficam na porta atrapalhando quem vai descer ou quem está subindo, gente que costura no trânsito, que não junta o cocô do cachorro, que não cuida da calçada, que esbarra na rua, que se acha mais importante que os outros, ou pior, que sequer enxerga os outros, nem percebe a existência de mais alguém ou nota quando somos gentis.
É brabo mas é queijo, diria meu pai.
Não faça isso que eu imaginei, viu? A vingança é sempre um prato indigesto, por mais frio que seja servido.
Gentileza gera gentileza? Talvez, mas não devemos agir assim esperando retorno das pessoas, pois a decepção endurece e amargura. Sejamos gentis pela pureza do ato, por nossa própria satisfação, por respeito aos nossos pais e à educação que nos deram, pelo engrandecimento da humanidade, mas não espere que isso seja notado ou levado em consideração.
Que gente...
Aquele abraço!
2 comentários:
Ô gentileza pura (não, não é beleza é gentileza mesmo), para de atravancar o caminho das velhinhas senão tu passarás e elas passarinho.
Excelente o texto e oportuna a histõria Poti.
Ao mesmo tempo em que jóvens estão despreparados para conviver em uma sociedade cada vez mais "Idosa", também temos os "Idosos" de 60 a 70 anos (que de longe nada tem a ver com os velhinhos que imaginamos.. fortes, saudáveis e ágeis) que não entendem que a lei do Idoso é para beneficiar aqueles senhores(as) que, além da idade avançada também tem dificuldades de locomoção, aqueles cuja a vida teve invernos maiores e mais dificeis.
Fui criado em uma época em que jovens não se sentavam enquanto houvesse um adulto de pé, mas cá entre nós, os velhinhos de ontem ( que já eram velhinhos com 55 anos) não são mais os mesmos. Com seus abrigos modernos frequentam academias e muitos continuam com vida produtiva mesmo com idade avançada. Nossos velhinhos não são mais os mesmos.
Álex
Postar um comentário