terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Fecham-se as cortinas



Corria o mês de Novembro de 2013, uma manhã normal como outras tantas dos últimos... Quantos anos? Não lembro.
Saindo de casa meio correndo, puxando a Júlia pela mão, ainda aos 17 anos (depois eu comento esse lance da mão), tentando chegar logo à frente do condomínio, de onde se pode ver a parada do ônibus. Pelo menos daquele ponto em diante poderíamos ver se este estava chegando ou se já havia passado, dependendo da população da parada.
Se estivesse cheia seria sinal de que não havia passado nenhum, se estivesse vazia, já teriam passado todos, pois cada um, de linhas diferentes, leva um pouco do pessoal. Poderia ter pouca gente, o que nos colocaria em dúvida se o “nosso” já teria passado. A menos que aquela “tia” que pega o mesmo ainda estivesse lá. Mas, e se ela tivesse também perdido o horário? Momentos de tensão, pois o horário é apertado e o intervalo entre os horários não da chance de pegar o próximo e chegar a tempo do primeiro período de aula.
Pois bem, era uma manhã como as outras, depois do stress diário, puxando ela da cama, lembrando do horário a cada 5 minutos, apressando o banho, cancelando a chapinha ou a escolha mais elaborada do figurino, conseguimos sair de casa. Estávamos chegando no portão e o ônibus na parada.
E agora? Será que dá tempo? Atravessar duas pistas da avenida correndo? Vamos tentar, foi a decisão conjunta. A primeira pista estava vazia ou o sinal aberto para nós, não lembro, corremos e o ônibus, na outra pista arrancou. Perdemos! Foi o que pensamos, mas não, o “tio do ônibus” colocou o carro em diagonal na rua fazendo sinal para ela atravessar e a esperou embarcar, depois foi embora acenando e sorrindo para mim. Nossa sorte que era um dos conhecidos, que durante esses vários anos a levou de casa para o colégio.
Foi nesse instante que a ficha caiu. Faltavam poucos dias para o final do ano letivo. Poucos dias para a conclusão do ensino médio, para o final desta etapa, para o início do resto da sua vida. Poucos dias mais de irmos juntos até a parada, batendo papo de mãos dadas, esperar o ônibus assim ou abraçados, trocando confidências ou observando os outros, somente mais alguns sanduíches com “pão de ontem” (que ela prefere), que só depois de muito tempo descobri, servia de lanche coletivo bem antes do intervalo, e aí passei a fazer dois destes de vez em quando, para satisfazer também aos seus colegas.
Neste momento alguma coisa começou a pesar dentro de mim. Uma bobagem destas que pai velho tem. Um sentimento de perda minando a satisfação de ver a filha concluindo o “segundo grau”.
Ela, em meio a tantos eventos paralelos, entre provas, festas, vestibular, formatura, arrecadação de fundos e tudo o mais, nem se deu conta do fim iminente e seguiu feliz na sua viagem diária, pensando nas suas coisas, ou em nada, como é normal nesta idade.
Somente eu fiquei com meus fantasmas, voltando pra casa, tomar café, aprontar pra ir ao trabalho, seguindo a vida, feliz por ela, mas com aquele "nózínho" no peito...



Aquele abraço!