terça-feira, 15 de outubro de 2013

Eleições




Ano que vem tem eleição. 
De novo.
Em outros tempos estaria excitado, acompanhando os movimentos políticos dos políticos.
Estaria sabendo dos candidatos e seus projetos, das verdades dos meus e das mentiras dos “dos outros”.
Em outros tempos.
Tempos de sonho, utopia, esperança.
De uma juventude sobrevivente, renascida, não das cinzas, mas do cinza. Um tempo cinza, Verde oliva cinza. Não mais o verde vivo da bandeira, mas uma cor opaca, escura, que para mim parecia cinza, tudo em tons de cinza.
Que humilhou e torturou e matou muita gente. Muito além dos presos políticos e suas famílias. Todo um povo humilhado, uma juventude abreviada, uma geração marcada, arrasada.
Que não tinha mais do que esperança, pois as forças já rareavam e a luta fazia menos sentido perante a vida. Tantos anos de jugo, tantos filhos nascidos no cativeiro, este cativeiro intelectual, moral e cívico.
Patriota por obrigação, nacionalista com manual, lições a decorar e generais a adorar.
Eis que brilha no horizonte o sol de raios fúlgidos da abertura política, com os velhos guerreiros voltando, saboreando uma vitória ilusória, uma liberdade fictícia, uma democracia caricata. Não tanto pelo poder da lei que a limitava quanto pela divisão de forças ocasionada pelo excesso de inteligências e vaidades.
A esquerda de tantas mentes brilhantes e idéias progressistas se perdeu entre mentiras, promessas e sede de poder.
A verdade tantas vezes repetida de formas diferentes, tomou formas diferentes ditas da mesma maneira, e o povo, embebido na esperança realizada, embriagado pelo sonho materializado, seguiu sua vida de gado, elegendo os mesmos de sempre e descobrindo aos poucos e a duras penas, que democracia não é sinônimo de justiça e que a ditadura pode ser boa se for a nossa, assim como opressão, tortura e humilhação não dependem necessariamente de força bruta, armas ou fardas, mas da comissão na negociata, do interesse do poder dominante, do que a TV quer que a gente queira.
O novo parece velho quando discursa para um lado e realiza para outro, quando se abraça ao inimigo pela governabilidade, quando releva o irrelevável pela manutenção do poder.
Se a esperança é a última que morre, mantenho a esperança de voltar um dia a ser ingênuo e a acreditar que tudo pode mudar.



Aquele abraço!