Ano que vem tem eleição.
De novo.
Em outros tempos estaria excitado, acompanhando os
movimentos políticos dos políticos.
Estaria sabendo dos candidatos e seus projetos, das verdades
dos meus e das mentiras dos “dos outros”.
Em outros tempos.
Tempos de sonho, utopia, esperança.
De uma juventude sobrevivente, renascida, não das cinzas,
mas do cinza. Um tempo cinza, Verde oliva cinza. Não mais o verde vivo da
bandeira, mas uma cor opaca, escura, que para mim parecia cinza, tudo em tons
de cinza.
Que humilhou e torturou e matou muita gente. Muito além dos
presos políticos e suas famílias. Todo um povo humilhado, uma juventude
abreviada, uma geração marcada, arrasada.
Que não tinha mais do que esperança, pois as forças já
rareavam e a luta fazia menos sentido perante a vida. Tantos anos de jugo,
tantos filhos nascidos no cativeiro, este cativeiro intelectual, moral e
cívico.
Patriota por obrigação, nacionalista com manual, lições a
decorar e generais a adorar.
Eis que brilha no horizonte o sol de raios fúlgidos da
abertura política, com os velhos guerreiros voltando, saboreando uma vitória
ilusória, uma liberdade fictícia, uma democracia caricata. Não tanto pelo poder
da lei que a limitava quanto pela divisão de forças ocasionada pelo excesso de
inteligências e vaidades.
A esquerda de tantas mentes brilhantes e idéias
progressistas se perdeu entre mentiras, promessas e sede de poder.
A verdade tantas vezes repetida de formas diferentes, tomou
formas diferentes ditas da mesma maneira, e o povo, embebido na esperança
realizada, embriagado pelo sonho materializado, seguiu sua vida de gado, elegendo
os mesmos de sempre e descobrindo aos poucos e a duras penas, que democracia
não é sinônimo de justiça e que a ditadura pode ser boa se for a nossa, assim
como opressão, tortura e humilhação não dependem necessariamente de força
bruta, armas ou fardas, mas da comissão na negociata, do interesse do poder
dominante, do que a TV quer que a gente queira.
O novo parece velho quando discursa para um lado e realiza
para outro, quando se abraça ao inimigo pela governabilidade, quando releva o
irrelevável pela manutenção do poder.
Se a esperança é a última que morre, mantenho a esperança de
voltar um dia a ser ingênuo e a acreditar que tudo pode mudar.
Aquele abraço!