Dia
desses (tenho que rever esta forma de começar meus textos), perdido pelas
areias do litoral norte me vi às voltas com uma emergência urinária destas que
só os machos menos jovens têm.
Nenhuma
perspectiva de banheiro próximo, uma tendinha destas que atualmente são
chamadas de quiosque, nenhuma casa de pescador, se é que eles ainda existem,
nada!
Nada
à vista que pudesse oferecer a remota possibilidade de um banheiro ou algo
parecido. Qualquer coisa que oferecesse privacidade e legalidade à minha micção
premente.
Nestas
circunstâncias, passei a avaliar outras possibilidades. Claro, não podia parar
para pensar, tinha que continuar caminhando que é bem melhor do que ficar no
mesmo lugar batendo os pés e apertando as pernas.
Pensei
em entrar na água e me aliviar ali, afinal milhões de animais marinhos fazem
coisas piores o tempo todo nestas águas, mas não estava em trajes de banho e
não creio que Iemanjá apreciaria esta oferenda.
Poderia
sentar na areia e fingir construir um castelo ou fazer um buraco buscando uma
conchinha fictícia, mas fazer estas coisas sem uma criança por perto seria
estranho.
Sentar
em posição do Lótus para parecer meditar... Não...
Foi
quando avistei um acolhedor cômoro de areia. Parecia que havia sido colocado
ali por algum anjo guardião das bexigas cheias.
Era
“de tardezinha”, mesmo que houvesse alguém próximo o suficiente para ver, e não
havia, o lusco-fusco daquele anoitecer protegeria minhas intimidades.
Bem
colocado, protegido de olhares curiosos e da ira de moralistas e ecologistas
dei início às atividades. Acredito que todos saibam que este ato, uma vez
começado é de difícil contenção. Ainda mais no estado em que me encontrava.
Os
primeiros momentos foram de alívio e relaxamento. Ah... Os pequenos prazeres da
vida...
Passada
a pressão (física e emocional), ainda “no ato”, a mente e a visão começaram a
clarear. Neste momento percebi que estava às margens de um alagado, com algumas
ervas entre meus dedos dos pés.
Comecei
a ouvir alguns sons estranhos, pequenos movimentos à minha volta e percebi que
não estava sozinho. Me vi desarmado e à mercê da natureza selvagem, e o pior de
tudo, extremamente vulnerável a qualquer ataque, praticamente imobilizado, pelo
menos se quisesse preservar as bermudas e a cueca.
Uma
coruja se materializou ao meu lado e saiu voando, pairou no ar por alguns
instantes, me olhando, talvez avaliando se aquele animalzinho que eu tinha na
mão seria uma boa presa. Pelo jeito não se agradou da aparência, piou me
recriminando por estar sujando seu quintal e foi embora, graças a Deus.
Graças
a Ele também, consegui terminar seco e incólume. Saí o mais rapidamente que
pude daquele local inóspito, porém salvador, não sem antes me desculpar com os
seus habitantes.
Espero
que a coruja consiga um lugar melhor para morar...
Aquele
abraço!