domingo, 13 de janeiro de 2013

Na Natureza Selvagem


Dia desses (tenho que rever esta forma de começar meus textos), perdido pelas areias do litoral norte me vi às voltas com uma emergência urinária destas que só os machos menos jovens têm.
Nenhuma perspectiva de banheiro próximo, uma tendinha destas que atualmente são chamadas de quiosque, nenhuma casa de pescador, se é que eles ainda existem, nada!
Nada à vista que pudesse oferecer a remota possibilidade de um banheiro ou algo parecido. Qualquer coisa que oferecesse privacidade e legalidade à minha micção premente.
Nestas circunstâncias, passei a avaliar outras possibilidades. Claro, não podia parar para pensar, tinha que continuar caminhando que é bem melhor do que ficar no mesmo lugar batendo os pés e apertando as pernas.
Pensei em entrar na água e me aliviar ali, afinal milhões de animais marinhos fazem coisas piores o tempo todo nestas águas, mas não estava em trajes de banho e não creio que Iemanjá apreciaria esta oferenda.
Poderia sentar na areia e fingir construir um castelo ou fazer um buraco buscando uma conchinha fictícia, mas fazer estas coisas sem uma criança por perto seria estranho.
Sentar em posição do Lótus para parecer meditar... Não...
Foi quando avistei um acolhedor cômoro de areia. Parecia que havia sido colocado ali por algum anjo guardião das bexigas cheias.
Era “de tardezinha”, mesmo que houvesse alguém próximo o suficiente para ver, e não havia, o lusco-fusco daquele anoitecer protegeria minhas intimidades.
Bem colocado, protegido de olhares curiosos e da ira de moralistas e ecologistas dei início às atividades. Acredito que todos saibam que este ato, uma vez começado é de difícil contenção. Ainda mais no estado em que me encontrava.
Os primeiros momentos foram de alívio e relaxamento. Ah... Os pequenos prazeres da vida...
Passada a pressão (física e emocional), ainda “no ato”, a mente e a visão começaram a clarear. Neste momento percebi que estava às margens de um alagado, com algumas ervas entre meus dedos dos pés.
Comecei a ouvir alguns sons estranhos, pequenos movimentos à minha volta e percebi que não estava sozinho. Me vi desarmado e à mercê da natureza selvagem, e o pior de tudo, extremamente vulnerável a qualquer ataque, praticamente imobilizado, pelo menos se quisesse preservar as bermudas e a cueca.
Uma coruja se materializou ao meu lado e saiu voando, pairou no ar por alguns instantes, me olhando, talvez avaliando se aquele animalzinho que eu tinha na mão seria uma boa presa. Pelo jeito não se agradou da aparência, piou me recriminando por estar sujando seu quintal e foi embora, graças a Deus.
Graças a Ele também, consegui terminar seco e incólume. Saí o mais rapidamente que pude daquele local inóspito, porém salvador, não sem antes me desculpar com os seus habitantes.
Espero que a coruja consiga um lugar melhor para morar...


Aquele abraço!