Acordou
no meio da noite ouvindo ruídos estranhos pela janela do seu quarto. Seriam
sinos? Não, já era madrugada e não havia igreja, escola ou bombeiros por perto.
Onde mais poderia haver sinos?
Devia
estar sonhando...
Ouvia
um farfalhar de tecido misturado com papeis. Algo indefinível àquela hora e
naquele estado de torpor tentando voltar a dormir. Permaneceu com os olhos
fechados tentando ignorar.
Sabia
que era madrugada pois ainda estava escuro e havia deitado muito tarde, e agora
aquilo... escolhera morar em um andar alto no centro da cidade para evitar os
ruídos normais nas noites de condomínios ou bairros residenciais.
Havia
também o som de vozes. Uma voz mais forte resmungava e outras vozes menores
argumentavam. Teria ele vizinhos novos e bagunceiros a ponto de acordá-lo no
meio da noite?
Cavalos...
Abriu os olhos. Cavalos? Ao lado da sua janela no 17º andar? Estaria sonhando
que estava acordado pensando que estava sonhando? Não. Estava acordado, e
quanto mais desperto ficava, mais nítidos iam se tornando os sons.
Abriu
a janela disposto a passar uma descompostura naqueles mal educados. Onde já se
viu, no meio da noite fazendo barulho com sinos, conversas, pacotes e suas
renas...
-
Até que enfim! Pensei que ficaria mais 20 anos esperando tu abrir essa janela.
– Aquela voz de trovão ecoou na sua cabeça por alguns momentos que pareceram
longos demais.
-
Papai Noel?
-
Olha, não me chamando de santa, pode chamar do que quiser, mas Noel ta bom. Eu
tenho um brinquedinho aqui pra ti...
-
Mas eu não pedi nada. Quer dizer, isso não pode. O Sr. não existe!
-
A ta... Não vem com esse papo agora! Olha, não vamos entrar em polêmicas que eu
tenho um monte de coisas pra fazer. Ta aqui o teu boneco do Esqueleto.
-
Esqueleto? Mas eu pedi foi o He-Man e isso já faz quase 20 anos.
-
Olha meu filho, a vida ta dura, o trabalho só aumenta, esses duendes estão cada
vez mais difíceis de lidar, com sindicato e tudo o mais, tive que pegar um
trenó menor porque uma ONG protetora de animais me acusou de maus tratos contra
os animais, as pessoas não param de fazer filhos que por mais tecnológicos e
céticos que estejam se tornando, quando chega o natal todo mundo resolve
acreditar. A gente faz o que pode pra atender a todos, mas às vezes demora um
pouco. Pega aqui o teu presente.
-
Eu queria era o He-Man que eu perdi na lagoa...
-
Faz o seguinte, escreve uma cartinha, mas não esquece, tem que se comportar e
tirar notas boas. – dizendo isto pegou as rédeas e fez suas renas galoparem
pelo céu.
Ele
ficou ali parado na janela olhando para o nada, com seu brinquedo nas mãos e em
seus ouvidos ecoando...
Ho,
ho, ho... FELIZ NATAL!
Aquele
abraço!