To
dando a minha corridinha matinal...
Peraí,
não contei isso ainda. Agora eu sou um atleta, ou um candidato a isso, e já faz
mais de um mês. Pode parecer pouco para a maioria, mas para mim é muito.
Todos
os dias eu espero o ônibus que leva a minha filha ao colégio, aceno para o
motorista com aquela intimidade que só têm aqueles que se conhecem apenas “de
vista” e começo o meu treino. Caminho até o campinho do parque Alim Pedro, aqui
perto de casa, conversando com os vários cachorros da vizinhança, e ali na
pista atlética dou minhas voltinhas.
Não
é nada de mais. Algumas voltas correndo, intercaladas com uns pedaços
caminhados.
De
manhã, pelo menos agora na primavera é muito bom. O sol nascente aquecendo aos
poucos, sem queimar a pele, o ar leve da manhã, o arvoredo, os passarinhos, ouvindo
no rádio o meu amigo Beto Xavier e sua seleção musical sempre qualificada,
enfim, tudo favorece.
A
cada dia quando começo penso que desta vez não vou conseguir completar a série,
mas vou indo, vou indo e quando me dou por conta já estou próximo do final, e
assim, aos poucos vou melhorando meu condicionamento físico e mental.
Sempre
tem um monte de gente correndo e caminhando, a maioria assim mais pra lá do que
pra cá, como eu, velhinhos. Tem profissionais e amadores, tem gente com personal trainer, e eu me metendo entre eles.
Comprei
até tênis de corrida, coisa que nunca tive na vida.
Bem,
mas como ia dizendo, estou dando a minha corridinha quando passo por uma
senhora exercitando sua caminhada de saia. Com tênis de caminhada, camiseta e
saia. Claro que ela é bem mais antiga do que eu, mas fazer caminhada de saia? Cada
uma... Sigo meu trote e passo por outra senhora, esta, aparentemente mais jovem
caminhando em ritmo acelerado, mas de sapato. Ela veste um traje tipo aqueles
terninhos que as executivas usam e sapatos.
Será
que passou por ali, viu o pessoal se exercitando e, motivada resolveu caminhar
assim mesmo? Quem sabe foi abduzida quando estava indo trabalhar e, largada ali,
continuou caminhando em transe? Imagino que resolveu caminhar naquele dia de
qualquer forma, despreparada, só que no outro dia ela está lá de novo, e no
outro também, sempre do mesmo jeito, com a mesma roupa e o mesmo sapato. Tenho vontade
de falar com ela. Perguntar por que motivo ela caminha naqueles trajes. Não tem
dinheiro para comprar tênis? Está pagando alguma promessa? Se odeia e está
tentando arranjar uma lesão?
Claro
que não vou falar nada. Sabe lá o que pensa quando eu passo por ela correndo
esbaforido, com meio metro de língua pra fora.
Sigo
correndo e caminhando, passando por alguns, sendo ultrapassado por outros, cada
um no seu ritmo, cada um com seus propósitos, e principalmente, cada um na sua.
Gente normal que não está ali para impressionar, só tentando melhorar a vida. Sigo
correndo e torcendo para que aquela senhora não se machuque e que eu consiga
chegar ao final do meu treino.
Aquele
abraço!