Cheguei na lancheria especializada em cachorro quente, consultei o cardápio e encontrei um que era mais ou menos o que eu estava procurando: pão, 2 salsichas, molho, mostarda, “quétechúpe”, alface, tomate, milho, ervilha e batata-palha.
- Moça, quero este aqui, mas sem “quétechúpe”, milho, ervilha, tomate ou alface.
- Certo. Sem molho, ervilha, tomate e alface.
- Não! Sem MILHO, com molho.
- sem milho e sem molho.
- Com molho!
- Moço, por favor, eu tenho outros clientes pra atender – disse ela impaciente.
- Sim, eu sei, e tenho pena deles – pensei.
- Ok moça. É sem milho – falei.
- Certo. Pra beber?
Bem, à partir daí seguiu-se o diálogo padrão. Peguei um jornal da casa e fui sentar numa área externa, pois era começo de tarde e a temperatura apresentava-se agradavelmente primaveril.
Quando o cachorro veio, eu distraído na leitura, peguei, agradeci e mordi.
Batata-palha... Eu não gosto de batata-palha no cachorro, por que diabos estou comendo um cachorro com batata-palha? Por que não pedi para tirar? E cadê o queijo ralado?
A-há... Solucionado o mistério. Eu li batata-palha no cardápio e imaginei queijo ralado.
Um dia encontrarei uma carrocinha de cachorro-quente como as da minha infância, com um cachorreiro de avental branco, colocando aquele molho suculento no pão antes da salsicha e sobre esta a mostarda que ele aplicava com um pauzinho. Não era um pincel, não era uma colher, era um pauzinho que ele tirava lambuzado de dentro do pote de mostarda a passava na salsicha. Por fim, sobre tudo uma leve camada de queijo ralado bem fininho.
Salivando esperei aquele cachorro que viria quase como aquele dos meus devaneios, e ele veio. Com batata-palha...
Bem, não vamos estragar o almoço por uma bobagem destas.
Tirei a bata-palha com um palito e coloquei no prato.
Hmmmm... Muito bom!
Passou a garçonete e notou o estrago que eu havia feito.
- O Sr. Não gosta de batata-palha? – indagou ela incrédula.
- Não – respondi sorrindo, quase envergonhado.
- O Sr. Poderia ter pedido sem...
- Eu sei moça, mas na hora me confundi. Não tem problema, já retirei.
Percebi seu ar de tristeza contemplando as batatas derrubadas sobre o prato. Lançou-me um olhar de desprezo e reprovação e se foi.
Não entendi muito bem se o sentimento dela era pelo desperdício do alimento, pelo meu paladar desregulado ou um pesar pela batata em si, em solidariedade às batatas descartadas.
Sabe lá o que passa na cabeça de uma garçonete, de uma cozinheira ou de um dono de lancheria que inventa um cachorro quente com batata-palha.
Aquele abraço!