domingo, 28 de agosto de 2011

Idosos...



Agora que estou às portas da melhoridade eventualmente me deparo com alguns problemas que se antecipam a ela.

Tirando uma dorzinha de vez em quando nas costas, joelhos, pescoço ou qualquer outra articulação, o resto ta tudo bem, entretanto algumas coisas começam a ficar mais difíceis, alguns objetivos mais distantes, algumas barreiras altas demais.

Vivemos tempos de grande evolução tecnológica que nos propicia conforto e facilidades, porém, em alguns casos ela só atrapalha. Por exemplo, não sei o que fizeram com a bola de futebol que ficou tão rápida. Muitas vezes não consigo alcançá-la. Os adversários também ficaram mais rápidos. Deve ser o tipo de calçado ou tomam alguma destas drogas modernas. Pra correr daquele jeito...

Os jornais e livros são outro exemplo desta modernidade que não ajuda. Eles sofreram alterações na sua edição. Creio que para economizar papel e tinta, diminuíram consideravelmente as letras. Textos que eu lia antes sem o menor problema, hoje em dia tornaram-se coisas minúsculas, difíceis de ler e que causam algum desconforto no braço. Se estiver lendo no ônibus, por exemplo, como fiz durante toda a minha vida, por vezes falta espaço entre os bancos para colocar o texto na posição certa.

Acho que foi o Veríssimo quem comentou uma vez ser uma sacanagem da indústria gráfica fazer livros infantis com letras enormes e livros para adultos com letras minúsculas. Deveria ser ao contrário.

Apesar de tudo eu resisto. Eu luto. Não vou me entregar tão fácil assim. Estou voltando a jogar bola. Não preciso correr tanto. Já conheço os atalhos.

Continuo lendo sem óculos. Pode ser desconfortável, mas cada livro ou jornal lido é uma vitória pessoal. Minha maior frustração vinha das bulas de remédio, mas agora a gente pode consultar pela internet, vocês sabiam? Vingança!

Ainda sou inexperiente em Viagra e afins, e pretendo continuar assim enquanto for possível, contando com a compreensão e o apoio da minha namorada em algum eventual tropeço. Não pretendo tingir os cabelos ou usar cinta pra diminuir a barriga. Continuo assistindo aos jogos em pé enquanto existir o Olímpico, pois parece que na Arena será obrigatório assistir sentado, enfim, não nego a idade. Vanglorio-me até, pois dizem que pareço ter apenas 49.

Procuro envelhecer com dignidade, mas enquanto puder evitar as “muletas” vou seguindo assim, caminhando e cantando e seguindo a canção.

Companheiros unam-se a mim na resistência. Lutemos!

Idosos unidos jamais serão vencidos...



Aquele abraço!


domingo, 7 de agosto de 2011

Agora vai!


Hoje eu decidi: Vou retomar meus estudos de música.

Na verdade já havia decidido há muito tempo, mas vinha adiando, retardando, empurrando pra amanhã, amanhã e depois, amanhã, mas hoje vai. Já tirei o violão da capa, coloquei ao lado do sofá e ele ta ali, só me olhando.

Peguei o de nylon porque é mais confortável. Vou recomeçar nas canções, só com acompanhamento, cantarolando pra pegar “embocadura” novamente. Recordar as lições aprendidas há muitos anos, o “desenho” das notas, a lógica das sequências, os tempos e ritmos, até as letras das músicas, pois pretendo facilitar até nisso, tocar as que já conheço e tocava antes.

Bem, aqui exagerei, superestimei minhas habilidades como músico. Sou muito bom músico de ouvido, quer dizer que ouço muito bem e pratico bastante, agora, tocar é outro papo. Aí o buraco é mais embaixo, mesmo no violão que o buraco é sempre no mesmo lugar.

Vou contar uma historinha pra exemplificar. Em 1982, eu trabalhava em uma empresa, meu segundo primeiro emprego, e ali conheci o meu amigo Carlos Roberto ou Roberto, ou Bebeto para os mais íntimos, o que não é o meu caso.

Esse cara chegou cheio de idéias e motivação musicais. Estava aprendendo a tocar violão, e tínhamos outro amigo, o Luis Paulista que também tocava, e os dois só falavam naquilo, e levavam violão e tocavam nos intervalos de almoço, e o pessoal gostava e eu ficava olhando e fui ficando a fim de aprender, e o Roberto me mostrou que era possível, e me vendeu um violão e eu comecei a aprender...

O Roberto destrói o violão. Toca muito. Tira qualquer música “de ouvido”, sola, acompanha, faz o diabo. Eu? Até hoje estou “aprendendo”...

Há uns 10 anos encontrei outro ex-colega daquela época, o Mário. Papo vai, papo vem comentei da minha felicidade por estar aprendendo a tocar violão, e ele perguntou espantado: AINDA???

Pois é, e lá vou eu de novo.

O Jorge, meu irmão, um dia sabendo que estava estudando contrabaixo disse que me admirava porque eu não desistia.

Na verdade o que eu mais fazia com relação ao violão era desistir. Já fiz aula em academia, com professor particular, já tentei cavaquinho, contrabaixo... Uma semana ou duas, quem sabe três e a motivação ia diminuindo, as prioridades se invertendo e o violão ia ficando escanteado como estava até há pouco, mas agora não! Agora vai. Se bem que a essa hora... Amanhã eu começo. Prometo!


Aquele abraço!


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Cinquentenário

Hoje completo 50 anos. 25 de Julho, 50 anos. Se considerarmos que no calendário romano original, Julho era o quinto mês, daria pra mistificar muito com estes números cinco, consultar um numerólogo... Como não sou desses vou só apostar nas loterias da Caixa.

Comemorei muito; como nunca. Nem sei bem por que. Talvez só pra marcar, já que muita gente faz festão nos 50 anos. Eu só queria festa mesmo. Saí, bebi, comi, dancei por várias noites; com meus amigos, com a patroa, com a família. Não necessariamente nesta mesma ordem... Coisa boa!!!

Na verdade, estou atravessando um ótimo momento. Muitas coisas boas acontecendo ao mesmo tempo. Mal tenho tempo de assimilar uma, já vem outra.

Sempre me vi com uma boa vida, apesar de não ser um boa-vida. Acho até que sou um cara de sorte, considerando a quantidade de coisas que poderia ter dado errado, e este momento em especial está sendo ótimo.

Claro, muito tem a ver com o modo como encaro a vida e os problemas, mas algumas coisas são tão ou mais importantes do que isso. O convívio com a família, o apoio que recebo deles; a parceria dos amigos, novos e velhos, a família estendida; meus colegas, os novos e os antigos; minha namorada, seu amor, sua paciência e dedicação; meus filhos e o amor recíproco que nos move e nos une, enfim, são tantas emoções...

Quero agradecer a todos por me ajudarem em vários momentos da minha vida e convidar a todos para participarem do resto dela.

Já vou começar a procurar a casa geriátrica onde comemoraremos o centenário...



Aquele abraço!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Gerações

Eu sou apenas um rapaz, latino americano, sem dinheiro no bolso... Quer dizer, era.

Isso é dos anos 70? Pode ser. Belchior. Uma das muitas coisas boas dos anos dourados. Dos nossos anos dourados.

Quando falo dos anos 70, muita gente torce o nariz. Principalmente os mais jovens. Claro, cada geração tem os seus próprios anos dourados.

Para eles o tempo é agora e o passado, principalmente o dos outros não tem nada a ver. Lembro de quando eu era adolescente. Nem gostava dos Beatles. Comecei a gostar depois de adulto.
As coisas mudam, mas nem tanto. A gente também desdenhava do passado dos adultos e achava uma bobagem aquele papo de “no meu tempo sim era bom”.

Isso já gerou muito atrito nas famílias quando levado a extremos. Conflito de gerações. Acontece quando um não dá importância às coisas importantes do outro.
Os adolescentes por serem adolescentes; os adultos por soberba, por aceitar o enfrentamento, por esquecer que o seu passado já foi presente e deve ter sido menosprezado pelos seus adultos da época. Foi importante quando era presente e é mais importante agora que é passado.

Amanhã, hoje será ontem. O presente deles que é o seu futuro passado. Vamos respeitar.

Já vi o meu filho se achando velho ao ouvir adolescentes falando das coisas velhas dos anos 90.

O meu tempo também é agora. Não vivo de passado, mas que foi bom foi, e não canso de lembrar com saudade.

Só o que não dá saudade é da parte da música onde ele fala “sem dinheiro no bolso”. Isso não mudou.


Aquele abraço!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Vício...


Não tem como eu chegar aqui e sair falando como se nada tivesse acontecido. Foram mais de 3 meses de ausência.

Alguém sentiu minha falta? Não? Pô! Como voces são...

Quando comecei, lá em 2009, era um texto por semana, uma produção louca, e agora nada?!?!
Passou mais um aniversário do blog e eu nem me dei conta...

Sei lá o que que houve. Não tinha tempo nem idéias, apenas uma angústia por não estar produzindo. Andava muito preocupado com valores materiais; concurso, emprego, estas coisas. Faltava inspiração, imaginação, e tinha o Zuma.

Agora que estes problemas se resolveram, a tranquilidade começa a voltar, a mente volta a relaxar, e talvez saia alguma coisa que se aproveite desde que eu não olhe pro Zuma...

Zuma DeLuxe e Zuma's Revenge.

NUNCA! JAMAIS joga qualquer destes jogos.

Eles entram na tua vida na maior inocência. Um joguinho ingênuo com um sapinho que cospe bolinhas coloridas não pode fazer mal a ninguém, é o que a gente pensa ao primeiro contato.

Como aquela doméstica, personagem do LFVeríssimo, pura e inocente, sem pecado. Seu único entretenimento era jogar damas. Conquistou toda a família com sua ingenuidade, então propôs uma apostinha... Acabou escravizando todo mundo e levando todo o dinheiro da família.

Assim é o Zuma. O mesmo modus operandi.

Quando eu via minha cunhada e minha sogra jogando, pensava com meus botões: Como pode pessoas inteligentes perdendo tempo com isso?

Eu e a Bianca, minha namorada comentávamos num tom crítico. Ambos deplorávamos aquela situação. Era constrangedor...

Um dia a Bianca disse que jogou e gostou. No outro dia ela já havia comprado e instalado em casa. Eu joguei e gostei. Instalei também no note e depois no PC.

Nossas vidas nunca mais foram as mesmas.
Horas a fio na frente do computador, até ficar com o braço "dormente" e os olhos ardendo, ressecados.
Quando me dei conta do tempo que estava perdendo com esse negócio larguei de mão.
Mas, como posso sentar na frente do computador, ver aquele ícone ali me olhando e ignorar? Ele que já me deu tantas alegrias.

Só mais uma vez, eu juro. Depois eu continuo...


Aquele abraço!

domingo, 27 de março de 2011

E agora?!?!


Estou sentado na sala, acabei de ler o jornal e ele repousa sobre minhas pernas cruzadas, chimarrão numa mão, a outra acariciando à Mimi que ronrona sobre os classificados, penso na vida. Observo meu apartamento, entre um gole e outro do amargo, deliberando sobre que rumo tomar, prioridades, essas coisas. Um raro momento de introspecção.

São tantas opções, e preciso tomar uma decisão! Não estou acostumado com isso. A vida nunca me pressiona. Neste momento sinto-me perdido, desorientado, incapaz...

Chega um momento na vida de um homem em que ele deve ser suficientemente maduro para decidir. Já passei por situações como esta muitas vezes na minha vida, mas nunca fui tão inseguro.

Será o momento muito delicado, com muitas coisas em jogo, ou apenas efeito da idade? A experiência traz sabedoria, mas também, em certos momentos, a tendência a ponderarmos indefinidamente. Depois de tantos erros e poucos acertos, tendemos a considerar as mais remotas possibilidades e conseqüências.

O animal egoísta adormecido em mim acorda e se manifesta, mas logo o reprimo. Se a decisão afeta pessoas a quem amo e estão próximas, devo considerar.

Preciso de ajuda. Não consigo decidir sozinho...

Nova dúvida: a quem pedir opinião? Como confiar no discernimento de outra pessoa? Será ela tão desprendida quanto eu ou tentará “puxar a brasa pro seu assado”?

Não posso mais adiar isso...

Afinal, meu Deus, de que cor pinto as paredes? Começo pela sala ou pelos quartos? Quem sabe o banheiro...

Tenho que reformar os estofados. O sofá é cama, indispensável a quem tem uma filha adolescente com amigas fiéis e um filho que mora fora, mas passa temporadas aqui. A cadeira do papai, que era do meu Papai, indispensável a quem gosta muito de assistir TV.

Que cores? Que tecidos? Devem ter a mesma cor, apenas combinar ou nem isso?

Vou tomar mais uma cuia. Hoje eu defino isso, ou não...


Aquele abraço!


domingo, 6 de março de 2011

Horóscopo


E o zodíaco, hein? Dizem que vai mudar tudo...

Grande revolução em muitas vidas.

Existem pessoas que acreditam e até baseiam suas atitudes nas previsões e/ou nas características de seu signo. Que me desculpem, por favor, mas não consigo acreditar. Pelo menos, não da forma como sempre foi divulgado. Já conversei com muitas pessoas que dizem entender realmente do assunto, mas até agora não conseguiram me convencer.

Dizem que é uma ciência que calcula os movimentos e o posicionamento dos astros e das galáxias, e que pode dizer qual a influência destes em nossas vidas, destino, personalidade, caráter...

Omar Cardoso foi um dos astrólogos mais famosos e conceituados do Brasil no seu tempo. Uma vez a minha mãe comprou um negócio dele. Não sei o que era, mas era mais que um mapa astral, era um livro, cheio de previsões e outras coisas feitas exclusivamente para ela, calculadas conforme suas data e hora de nascimento e sei lá mais o que.
Tudo muito lindo, tudo certinho, até a parte onde previa que ela perderia um de seus filhos... Jogou o livro no lixo na hora. Creio que até hoje ela se borra de medo disso, mas por enquanto continuamos por aqui.

Eu tenho uma resistência muito forte, assim como a qualquer destas doutrinas esotéricas, cheias de mistérios e reservadas aos iniciados.
Sempre me lembro d’A Roupa Nova do Rei.

Voltando ao assunto, pra quem não sabe um astrólogo aí disse que as datas dos signos deveriam ser recalculadas devido à mudança no alinhamento da terra com o sol ou qualquer coisa parecida. Acharam mais uma constelação e teria um novo signo. Resumindo, ele disse que tá tudo errado há muito tempo.

Claro que ele já foi desmentido, mas a gente sabe como as pessoas são influenciáveis. Ainda mais as crentes em horóscopo.
Imagina se agora existirem duas correntes. Os conservadores usando o zodíaco antigo e os progressistas, baseando-se no novo.

Seria legal ver algumas pessoas mudando o comportamento ou em dúvida sobre como comportar-se, segundo os padrões do seu novo signo.
Pega o jornal de manhã, olha o horóscopo e escolhe o signo conforme a previsão mais favorável.
Pensando bem, até que seria legal. Tem muita gente chata só porque é deste ou daquele signo, pode ser que mudando de signo mudem a atitude...

Só o signo de leão não precisa mexer. Não temos nada a melhorar.

Aquele abraço!


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Até breve...




"Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que "baixa" no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente".



Moacyr Scliar ( Porto Alegre, 23/03/1937 - 27/02/2011)

Neste momento não me atrevo a escrever, apenas agradecer pelo tempo que nos deu.
Que esteja em paz com os muitos amigos que o receberão.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A tristeza de virar a página


Comentei dia desses, meu hábito de leitura do jornal dominical, bem como o método que utilizo. Citei, sem nomear, os colunistas do jornal e admiti a influência que um destes colunistas, pelo modo como escreve e transmite suas idéias, tem no meu modo de escrever e desenvolver minhas idéias. Vali-me de uma de suas crônicas para desenvolver um dos meus arremedos de crônica. 

Dias depois ele sofre um AVC enquanto convalescia de uma cirurgia.

Neste domingo, mais uma vez me peguei entristecido, depois de ler a coluna do Veríssimo, pois sabia que ao virar a página não encontraria mais sua foto sorridente e um de seus textos.
Textos que aguardava ansiosamente durante a semana. 
Textos aos quais me acostumei e aprendi a apreciar muito rapidamente.

Confesso que esta descoberta foi tardia, recente, mas tem justamente a pureza da descoberta, do acaso. Sem recomendações, sem elogios de terceiros. Simplesmente num belo dia me pego lendo a coluna do Scliar, gostando e me perguntando onde o haviam escondido por tanto tempo.

Da mesma forma, outro dia, ao acaso “ouvindo” televisão, fiquei sabendo da sua/nossa má sorte.

Não me vejam egoísta. Perdi meu pai recentemente em um evento parecido, porém fatal, e tenho esta dor ainda muito presente.

Lamento Moacyr Scliar pela pessoa que transparece em suas crônicas; solidarizo-me com a família pela dor que devem estar sentindo, e agrego às muitas pessoas que neste momento também torcem pelo seu restabelecimento e sonham com o seu retorno ao nosso convívio, mesmo sendo este apenas através de suas mensagens nas páginas de um jornal.
Inevitável, porém, o sofrimento enquanto leitor, pela falta que me faz o prazer dominical da leitura relaxante e estimulante de Moacyr Scliar.

Rezo para que retorne e me traga de volta a alegria de virar a página.


Aquele abraço.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Sócio



-       Opa...
-       Daí?
-       Tudo bem?
-       Tranquilo...
...
-       Quem é esse cara?
-       Meu sócio.
-       Sócio?
-       É. Ele tá saindo com a minha mulher.
-       ...
-       Que foi?
-       Tu ta brincando, né?
-       Não.
-       Com a Lu?
-       ... e tu te preocupa é com ela?!?!
-       Não... Quer dizer, sim... Não... É que fiquei meio confuso. Surpreso...
-       Porque?
-       Sei lá, ela não parece ser... “dessas”.
-       E eu, pareço ser “desses”?
-       NÃO! Para com isso...
-       Ta bom...
-       Ta, e  tu fica nessa tranquilidade?
-       Que que tu quer que eu faça?
-       Sei lá; tu não te abala?
-       Cara, ela tá feliz. Ela estando feliz, me deixa em paz. Não fica enchendo o saco com dançar, teatro, encontros com amigos, visitas pra mãe...
-       ...
-       Nem sei há quantos meses não vejo a minha sogra. Que mais que eu posso querer?
-       Ta certo, mas, eles sabem?
-       O que?
-       Que tu sabe...
-       Claro que não! Nem podem.
-       Mas...
-       “Mas” nada... Se ficam sabendo que eu sei, vão achar que todo mundo sabe, aí o negócio vira manchete e eles perdem o respeito.
-       Respeito?
-       Claro. Enquanto eles acharem que eu não sei de nada, eles mantêm o decoro, fazem tudo escondidinho, na moita.
-       Mas que diferença faz pra ti? Por acaso deixa de ser traído?
-       Não, mas isso não tem a menor importância. Já que eu sou corno, deixa eu tirar algum proveito disso. O corno é sempre o último à saber. Eu tive o privilégio de saber antes. Acho até que ninguém mais sabe. Só eu...  E agora tú.
-       Nem sei se é verdade. Tu quem tá dizendo...
-       Faz tempo já.
-       Tu não sente ciúmes?
-       Ciúme é sinal de insegurança. Eu não preciso desconfiar dela, eu sei...
-       ...
-       E ele é legal com ela. Trata ela bem, dá presentes, não muitos pra não dar na vista, mas ta me economizando uns pilas...
-       Sei...
-       E tem outra; ela anda um doce comigo. Cheia de gentilezas, fazendo tudo o que eu quero e mais um pouco. Nem reclama mais do nosso futebol.
-       Capaz...?!?!
-       Mais uma coisa, ta com a libido a mil. Um monte de coisas que ela não gostava e não fazia, agora faz e gosta. E pede! Acho que foi ele quem ensinou. Sabe como é...
-       Não sei não!
-       ...
-       hmmm...
-       Que foi?
-       Tava pensando...
-       O que?
-       A Nadinha...
-       A tua mulher?
-       É...
-       Que que tem?
-       Ela anda tão gentil comigo... Me assediando na cama.
-       Sei...
-       Que foi?
-       Sei lá... Há quanto tempo ela não te pede nada?
-       ...


Esta é uma obra de ficção.
Qualquer semelhança com nomes, datas e/ou acontecimentos reais terá sido mera 
coincidência, principalmente em relação à minha namorada (espero), e à
minha sogra, a quem adoro e que não se encaixa de forma       
alguma no estereótipo comum de sogra.            
Um Beijo Dna Marlene.           
  

Aquele abraço!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Trabalho

O jornal de domingo chega no sábado à tarde, mas deixo para ler no domingo mesmo. De manhã, bem cedinho. Tomando café ou chimarrão, aproveito para ler, bem sossegado. Mas o prazer desta leitura resume-se a quatro ou cinco colunistas; o resto eu dou uma passada de olhos.

No meio daquele monte de papel, entre anúncios classificados, propagandas e notícias velhas, meia dúzia de páginas salva o jornal. Mesmo assim vale à pena. É um luxo ao qual me dou o direito.

Recentemente um destes colunistas escreveu sobre o porquê de gostarmos do que gostamos.

Taí uma reflexão interessante.

Às vezes gostamos de várias coisas pelo mesmo motivo ou, de uma mesma coisa por motivos diversos. Com as atividades também é assim; fazemos ou deixamos de fazer coisas por interesse ou pela falta dele.

Esta reflexão suscita uma outra: Até que ponto gostamos do que fazemos ou fazemos aquilo que gostamos?

No trabalho, por exemplo, fazer o que gosta ou gostar do que faz, não são, obrigatoriamente a mesma coisa. Gostar do que faz pode ser apenas consequência da capacidade de adaptação extremada pela necessidade; costume, acomodação. Fazemos aquilo por tanto tempo que se torna fácil; ou, numa perspectiva distorcida, turvada pelo comodismo, aquilo é o melhor que podemos conseguir, então aceitamos como bom.

Pode-se gostar do que faz por uma série de fatores correlatos que abrandariam ou mascarariam certa insatisfação com o trabalho em si ou situações decorrentes dele.

Fazer o que gosta me parece ser um pouco diferente disto. Sentir prazer em pequenas conquistas, olhar orgulhoso para um trabalho bem feito, alegrar-se com a satisfação do cliente, com o prazo cumprido. Estar à vontade no seu posto de trabalho, com suas ferramentas, equipamentos; cuidar deles e tentar melhorá-los; conviver com os colegas ao invés de duelar com cada um deles; tudo isso passa a ser parte do dia a dia quando se faz o que gosta.

Acordar na segunda-feira como em qualquer outro dia; retomar o trabalho tranquilo e esperançoso por mais uma semana de trabalho, ao invés de encarar como o condenado que volta ao cárcere, do indulto de final de semana.

Eu gosto muito do que faço e faço uma coisa que gosto. Gosto de fazer outras coisas também, mas meu trabalho é, na maior parte do tempo um prazer.

Tenho ótimos colegas, incluindo as chefias; o ambiente da empresa é bom, o trabalho é bom, o salário é bom... quer dizer, o salário poderia ser melhorzinho, mas disto trataremos em outro momento, depois de, desinteressadamente publicar esse texto.

Aquele abraço!